Não Pareça Ser...
Não só por vivência, mas também por pesquisas e referências, desconheço um mundo mais:
- Caótico, porém cheio de discursos de paz e equidade;
- Conectado e ágil, porém lento em fazer justiça e adotar comportamentos construtivos;
- Doente e debilitado, porém justificado através do progresso e possibilidades futuras;
- Cheio de EGOS, carente de ELOS!
Poderia prolongar a lista, mas destacar o negativo não é o foco de hoje. Prefiro olhar para o que podemos transformar em nós mesmos, falar de possibilidades…
Acredito que, se ajustarmos o foco, melhoramos drasticamente os cenários e os nossos resultados. Conforme o Princípio de Pareto, 80% dos efeitos surgem a partir de apenas 20% das causas.
Por que insistimos em ir na contramão de algo tão validado? Por que continuamos a desperdiçar nossa energia e tempo em coisas que nada agregam? Pior, que nos diminuem!
Nos adaptamos a uma cultura onde o negativo gera ibope, acusações, lamentações… “Einsteins” com a solução perfeita para tudo que é exposto pela mídia (pelo menos no discurso).
A conta que não fecha é: se há tanto amor e boa intenção, tantas pessoas sábias e conscientes, prontas para salvar o mundo do outro, por que não há mudança de cenário?
A verdade é que a grande maioria dos sábios mencionados, parecem ser sábios, comprometidos e interessados no todo. Contudo, todo este interesse e comprometimento não passam de uma distração, uma distorção do foco quanto à sua própria tragédia, sujeira e vida desajustada.
Como o palco vende mais que o bastidor, o importante é parecer correto, consciente, coerente. Contanto que jamais tenham acesso ao nosso offline, a vida segue anestesiada, de modo a não sermos obrigados a enfrentar nossos monstros do armário.
O problema é que chega um momento em que o bilhete fica barato demais para cobrir os custos da produção. A audiência perde o interesse, nos tornamos obsoletos e de frente a um cenário que não fomos preparados para lidar.
Confesso que, apesar de conhecê-la há décadas, apenas recentemente me atentei à riqueza da parábola da figueira amaldiçoada por Jesus, ‘simplesmente’ por não ter frutos quando Ele sentia fome. Pobre vítima!
Não era estação de frutos, mesmo que fosse, por que matar alguém ou alguma coisa simplesmente porque não nos satisfez naquele momento?
A Bíblia nos relata que, estando Jesus com fome, avistou uma figueira cheia de folhas e foi, sem sucesso, em busca de seus frutos. Sentindo-se enganado, amaldiçoou a figueira que em pouco tempo secou até morrer.
Como assim? Qual parte de não estar no tempo certo Jesus não entendeu?
O que nem todos sabem, é que aquela figueira só apresentaria folhas se já houvessem frutos. Como não era o caso, ela vivia de aparências, seduzindo e frustrando a quem passava pelo caminho.
Não é isso que muitos fazem hoje? Manipulam, enganam, seduzem e matam de fome quem gasta seus últimos recursos (materiais, mentais, sentimentais, espirituais) em busca da solução perfeita? Intencionalmente, matam a inocência, os sonhos e a verdade, em troca de benefícios unilaterais temporários.
Jesus não viveu de aparências, não deixou palavras vazias ou parábolas sem aplicabilidade. Da figueira às muitas repreensões, condenou a superficialidade, a manipulação e o oportunismo.
Da próxima vez em que sentir-se tentado a PARECER para pertencer, lembre-se do alto custo dos bastidores, do preço a se pagar quando estamos desalinhados, fora da estação correta. Lembre-se de quem fica ao fechar das cortinas, de quem você é no camarim.
Se formos honestos, nada justifica uma vida rasa, de aparências, superficial. Com o tempo, o nosso interior se torna tão oco quanto o externo, e a nossa vulnerabilidade deixa de ser algo bom. Nos tornamos nossos piores inimigos e os únicos responsáveis por nossa queda.
Você pode pensar: mas eu não vivo de aparências! Ok, parabéns! Eu também não vivia, não personificava o que não era, mas eu suportava pessoas que assim o faziam. Não me opunha ou me posicionava. Não deixava de conviver com aquelas pessoas, seja qual fosse a razão. Não seria esta outra forma de parecer ser?
Com o tempo, a erosão ao meu redor me engoliu. Finalmente entendi que há um limite para inspirar o meio de perto. Chega o momento que precisamos migrar de solo, de região, de companhias… Somente assim, não contaminamos nossa raiz ou flexibilizamos nossos valores, perdendo a nossa autenticidade e beleza ímpar!
Retomando o pensamento, Jesus não foi injusto. Ele, simplesmente, se recusou a reprimir sua frustração e seguir fingindo que estava tudo bem PARECER SER. Ele nos ensinou a importância de sermos de verdade e de não aceitarmos menos que a verdade.
Jesus nos ensinou que não basta reclamarmos, terceirizarmos a culpa ou buscarmos justificativas, nos vitimizando em busca de atenção, de sermos amados e aceitos por todos. Não é esta outra forma de viver de aparências?
Jesus nos mostrou que há limite para a dor da fome, limite para a manipulação, limite para tolerar o intolerável, para conhecer a verdade e não se posicionar.
Você pode não ser capaz de mudar o mundo sendo íntegro, pode doer não pertencer ao sistema… Mas, lembre-se, a dor de morrer em vida é indescritivelmente maior que o preço pago para ter o direito de ser você.
Mude o seu mundo, seja exemplo, seja de verdade… mesmo que para isso você precise atravessar o deserto sozinho. Há um oasis a nossa espera, o processo valerá a pena! Apenas seja, o melhor que possa ser…