Denise Arlinda Moreira Passos, nasceu em 07 de julho de 1982, em Mariana- MG, em uma família de cinco irmãos, que estava sempre enfrentando desafios financeiros temporários ou buscando novas oportunidades.
Mulheres Eternas: Denise Passos
Denise, você me falou que seus pais se separaram e você teve uma infância, digamos que, peculiar. Fala um pouco sobre essa experiência.
“Por volta dos 5 anos, enfrentei a realidade da separação precoce dos meus pais, o que me levou a ser criada por minha avó paterna e pelo meu pai. Minha infância foi marcada por uma situação única e desafiadora.
Fui criada em um ambiente no qual a figura materna estava ausente e, infelizmente, naquela época, a abordagem da educação positiva ainda não era amplamente compreendida ou aplicada como atualmente.
Isso resultou em uma dinâmica familiar na qual não era comum ouvir a perspectiva da criança, e as práticas de educação muitas vezes eram moldadas por concepções tradicionais e limitadas. Crescer nesse ambiente desafiador me fez perceber o impacto profundo que a educação e a comunicação têm no desenvolvimento de uma criança.
Embora tenha passado por momentos difíceis, também aprendi a desenvolver a resiliência e a capacidade de adaptação que se desenvolveu ao longo do tempo. Hoje, com as experiências e conhecimentos adquiridos, olho para trás, reconheço que aquela era uma época em que as abordagens educacionais aconteciam de maneira limitada e engessada.
Claro que a educação positiva ainda precisa evoluir muito quando se fala em processo de desenvolvimento infantil. E minha experiência me motivou a buscar conhecimento sobre a importância de uma abordagem mais empática e centrada na criança e na criação dos filhos.
Apesar dos desafios que enfrentei, minha jornada me faz compreender a importância de ouvir as crianças, validar suas emoções e permitir que elas tenham uma voz ativa em suas vidas.
Essa experiência moldou meu desejo de contribuir para uma educação mais consciente e voltada para o desenvolvimento integral das crianças, incorporando os princípios da educação positiva que, com o tempo, os estudos sobre essa temática se tornaram mais amplamente reconhecidos e adotados.”
Você falou que os desafios te ajudaram a adquirir habilidades, como a resiliência e a capacidade de adaptação. Segundo a sua percepção, quais foram os principais desafios enfrentados na sua infância, adolescência e também na fase adulta?
“Durante minha infância, a ausência da figura materna na minha criação trouxe desafios, mas também possibilitou uma profunda conexão com meu pai. Esse período foi marcado por uma situação complexa e desafiadora. Meu pai, apesar de lutar contra o alcoolismo e ter momentos de agressividade, desempenhou o papel de cuidador na minha vida enquanto eu era uma menina.
Por exemplo, me lembro como se fosse hoje, ele me orientava de uma forma tão acolhedora em relação à forma como eu me comportava ao usar saias, transmitindo a ideia de que era importante manter uma postura mais recatada quando usava esse tipo de roupa. Essa orientação refletia os valores e as normas sociais que ele considerava relevantes naquela época.
Minha adolescência foi uma época de desafios intensos e complexos, pois tive que lidar com a presença do alcoolismo e agressividade do meu pai. Em meio a esses desafios, houve momentos de isolamento emocional.
A falta de compreensão por parte dos outros sobre a complexidade da situação, frequentemente me levava a sentir que estava sozinha com meus sentimentos e dificuldades. Isso também influenciou meus relacionamentos com amigos e colegas, já que eu tinha dificuldade em compartilhar a realidade da minha casa. Fortaleci minhas orações e fé de que tudo um dia iria passar.
Na fase adulta me deparei com desafios importantes como busca por estabilidade financeira e independência. Lidar com carreira, finanças e planejamento para o futuro trouxe uma nova dimensão de responsabilidade e tomada de decisões. Aprender a equilibrar as demandas profissionais com as pessoais e encontrar maneiras de manter um equilíbrio saudável tornou-se uma prioridade constante.”
Denise, você fez uma transição de carreira, certo? Como foi a escolha da primeira profissão?
“Optar pela carreira de técnica de enfermagem como minha primeira profissão foi uma decisão guiada por uma combinação de interesse pessoal e um desejo genuíno de fazer a diferença na vida das pessoas.
A escolha de seguir nessa área foi motivada pela minha paixão por cuidar e ajudar os outros em momentos de vulnerabilidade, bem como pelo desejo de contribuir para o campo da saúde de maneira direta e significativa.
A falta de apoio da minha família poderia ter sido desanimadora, mas escolhi transformar essa adversidade em motivação. A vontade de ingressar na área da enfermagem era mais forte do que nunca, e eu estava disposta a explorar outras opções para buscar o suporte que precisava.
Foi então que outras pessoas entraram em minha vida para me oferecer esse apoio crucial. Contar com o apoio de tios e tias que me receberam em sua casa, foi uma virada de jogo. Sou eternamente grata a cada um deles.”
Como e quando surgiu o empreendedorismo na sua vida?
“A decisão de empreender veio do desejo de acompanhar o crescimento do meu filho, foi uma escolha profundamente pessoal e significativa, pois nesse momento, minha maior vontade era equilibrar a vida profissional com a dedicação à minha família. No entanto, enfrentei uma série de desafios e críticas que vieram com essa decisão, especialmente quando optei por deixar meu emprego de carteira assinada.”
Você acredita que a ausência da figura materna influenciou de alguma forma nesse desejo de ser uma mãe presente e, ao mesmo tempo, ser uma profissional que trabalha com a orientação de famílias?
“Sim, apesar da ausência da figura materna em minha vida, desenvolvi um desejo profundo e sincero de ser mãe, um desejo que cresceu de maneira especial em meu coração.
Minha jornada durante a gestação foi uma montanha-russa emocional, marcada por desafios que eu não poderia ter previsto, inclusive no meu casamento. Enquanto meu desejo de ser mãe era profundo e genuíno, também enfrentei problemas emocionais que ameaçaram a serenidade desse período especial.
Acredito que uma família deve oferecer um ambiente seguro e acolhedor, onde os laços de confiança e conexão são cultivados desde o início da vida de uma criança. Portanto, fiz da proteção e do bem-estar do meu bebê a minha prioridade inabalável, a luz que me guiava no meio à escuridão.
Lidar com problemas emocionais durante a gestação não foi fácil. Eu experimentei momentos de ansiedade, medo e angústia, e havia dias em que as emoções pareciam esmagadoras, mas venci.
O período após o parto deveria ter sido um momento de alegria e adaptação à nova fase da minha vida, mas, infelizmente, enfrentei uma situação grave que mudou completamente a trajetória desse período.
Fui diagnosticada com eclampsia, uma condição médica potencialmente fatal, caracterizada por convulsões associadas à gravidez, além de ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) nesse momento crítico.
Meu desejo de ser mãe se tornou um pilar que me guiou, me fortaleceu e, no final das contas, me presenteou com o inestimável presente da maternidade que é meu filho Bernardo.”
Nossa Denise! Quanta coisa você precisou enfrentar e superar para realizar o sonho de ser mãe. E hoje, após esses desafios, quais foram as principais mudanças na sua realidade e na sua forma de enxergar a vida?
“Minha jornada de superação é uma trajetória que se desenrolou desde os desafios da infância até a mulher forte, confiante e resiliente que sou hoje. Cada fase da minha vida me ensinou lições valiosas e oportunidades de crescimento, moldando gradualmente a pessoa que me tornei.
Hoje, acredito que ressignifiquei minha trajetória, busco diariamente focar nos meus pontos positivos, como coragem e resiliência diante das adversidades. Meu propósito é inspirar outras mulheres em meio às situações mais difíceis.”
Nós falamos que você fez novas escolhas. Deixou a enfermagem e se tornou empreendedora. Gostaria que você falasse um pouco mais sobre isso. Quem é a Denise hoje e como você avalia o seu papel como profissional?
“Hoje sou Psicopedagoga. E ser psicopedagoga não é apenas uma profissão, mas também uma vocação que me permite ser uma guia e uma orientadora sobre o desenvolvimento na infância e etapas do processo de aprendizado escolar.
É uma oportunidade de oferecer suporte emocional para as famílias e educadores, construir autoestima e promover a confiança na capacidade de superar obstáculos.
A cada pequeno progresso, sinto uma alegria imensa, sabendo que estou confiante para uma jornada de crescimento e autodescoberta de outra pessoa.”
Denise, estou muito feliz e grata pela oportunidade de conhecer melhor a sua trajetória e contribuir para que a sua voz alcance outras mulheres, mães, empreendedoras e faça a diferença na vida dessas pessoas. E para encerrar essa entrevista, te peço para deixar uma mensagem especial para essas mulheres.
“Cada conquista, por menor que seja, merece ser celebrada. Cada dia que vocês equilibram as muitas responsabilidades é um triunfo de dedicação e amor. Continuem acreditando em si mesmas e no poder da sua visão. E saibam que o impacto que vocês estão causando no mundo é imensurável.” Denise Passos