Equidade: a mulher no mundo corporativo
A minha jornada no empreendedorismo começou muito antes do meu entendimento do que é esta palavra.
Aos oito anos eu já vendia cosméticos e travesseiros de porta em porta na minha vizinhança.
Entre contratos e CLT, trabalhei nos mais variados setores até chegar no meu hotel e consultoria em 2018, com dedicação exclusiva à Let’s Sum desde 2021.
Eu reconheço que a minha trajetória é a exceção e não a regra da sociedade atual. Também reconheço o peso dos meus erros, resultantes da inversão de papeis vivida na tentativa de pertencer e obter sucesso em um ambiente majoritariamente masculino.
De acordo com o Global Gender Gap Report, uma pesquisa mundial sobre equidade de gênero, considerando a ausência de grandes retrocessos, levaremos pelo menos mais 132 anos para eliminar a desigualdade profissional entre homens e mulheres.
Apesar de estarmos a frente de países onde vacas são mais valiosas que mulheres, o Brasil tem muito a evoluir, ocupando o 94° lugar no ranking global.
Historicamente, as mulheres foram silenciadas e colocadas à margem da sociedade por séculos. Apesar de hoje sermos maioria global, ainda somos minoria na vida pública e privada, no que diz respeito a ter voz e vez.
A presença de mulheres em cargos de liderança é uma correção histórica, social e econômica, crucial à manutenção de nossas comunidades.
Ao falarmos de equidade, é importante distinguir qual o sentido de equilíbrio que queremos destacar. Uma sociedade equitativa não se trata de medir força física, tampouco provar quem é mais esperto ou inteligente.
Equidade tem a ver com igualdade de posicionamento, de oportunidades, de participação intelectual, de tratamento, de compensação e, principalmente, de respeito.
Equidade não é inversão de papeis. Toda inversão gera desequilíbrio e desinformação, um vitimismo sistêmico que nos impede de crescer como grupo.
Ao se falar de equidade, a intenção precisa ser a quebra do estereótipo organizacional construído por nossos antecessores. Entender que não existe liderança masculina ou feminina, existem homens e mulheres em posição de liderança e que, estes, reproduzem em suas funções as pré-concepções inerentes à sua identificação de gênero.
Fiquei um pouco surpresa ao descobrir recentemente que já se falam em mais de 50 variações de gênero. Não discutirei aqui o que é certo ou errado, só usarei a informação para ir na raiz da questão: qual dor estamos tentando cessar? Ou do que estamos tentando fugir?
Já houve um tempo no qual acreditava-se que o útero passeava pelo corpo da mulher, o que a tornava histérica, um ser incapaz de controlar a si mesma, quanto mais dirigir uma organização ou posicionar-se social/politicamente; devendo, assim, ser controlada por uma figura masculina.
Hoje já sabemos que o útero é fixo e que as cólicas equivalem a dor de um ataque cardíaco (quem não tem o direito de ser histérico nesta situação?). Uma em cada cinco mulheres são incapacitadas pela dor do ciclo menstrual e, ainda assim, somos ensinadas a disfarçar nossos sentimentos e necessidades, a jogar as regras do jogo se quisermos o mínimo de respeito e voz.
Seja qual for o dia do mês, se posicione contra alguma opinião masculina em público e você é classificada como louca, desesperada para aparecer, imatura, inexperiente, “deve estar de TPM”…
Ironicamente, ao fazer o mesmo, homens são considerados “o cara”, o modelo a ser seguido, o líder com pulso firme, resolvido e confiante.
A ideia não é buscar culpados, somos resultado de um processo histórico. Contudo, somos responsáveis pela perpetuação da cultura opressora. Por isso a importância da educação e conscientização coletiva.
Não há espaço para medir força, discutir quem pode mais, sabe mais… precisamos romper com esta competitividade tóxica e nos vermos como sujeitos de direito, corresponsáveis pelo progresso coletivo.
Precisamos quebrar este ciclo onde o homem é naturalmente digno, humano, capaz e adaptável, enquanto as mulheres precisam ser “educadas” e preparadas para integrarem a sociedade sem causar tumulto.
Você não vê homens sendo perguntados em entrevistas se pensam em ter filhos, ou, se têm filhos, quem cuida da casa e da família. Homens casados ou pais são promovidos e recompensados. Mulheres casadas são excelentes cuidadoras, mas ameaças ao sucesso da empresa, caso engravidem.
Desde o jardim do Éden, homens são sujeitos que têm corpos, enquanto as mulheres são apenas corpos que precisam ser amados e condicionados às vontades e necessidades masculinas.
O nosso maior desafio é o equilíbrio, vencer a síndrome das pioneiras, do extremismo.Tudo que é extremo perde o foco, o valor e, consequentemente, o impacto positivo.
Somos todos humanos, com direitos e deveres iguais, mas com papeis sociais diferentes e está tudo bem. Esta é a beleza da nossa completude, do autoconhecimento. Precisamos, dentro e fora do mundo corporativo, falarmos mais sobre isto.
Tudo está interligado e todos temos muito a contribuir com o progresso coletivo. Cada um de nós, homens e mulheres, estimulamos áreas e habilidades distintas em nossos liderados: é esta pluralidade que nos permite ir cada vez mais longe!