6 Fases do Luto
Ser PhD em perdas e tragédias precisa servir para, no mínimo, ajudar alguém a não passar pelo mesmo.
Neste propósito, compartilho os 6 estágios do luto, como passei por eles e as lições que aprendi, da primeira a última fase.
Cabe aqui destacar: não há “receita de bolo”. Desconheço estratégia infalível ou a prova de qualquer coisa. Na vida real, as variáveis não são tão domináveis quanto no papel.
Contudo, estratégias nos ajudam a minimizar as perdas, explorar nossas habilidades, bem como, o que pode ser melhorado ao longo do caminho.
Todas as fases são importantes, necessárias, possuem um propósito e têm muito a nos ensinar. O importante é se permitir viver, sentir e prosseguir.
Fase 1: Choque | Negação – Por mais que nos consideremos evoluídos, é impossível estar 100% à prova de perdas e dores, de seguirmos indiferentes ao caos do luto quando este nos encontra.
Provavelmente você já ouviu dizer que “o que os olhos não veem, o coração não sente”. É justamente esta a nossa primeira reação, tentar negar, rejeitar aquela realidade, proteger o nosso coração.
Ao longo do anos, aprendi que quanto mais rápida e consciente for esta fase, mais fortes e com menos arrependimentos saímos dela.
Posso passar anos negando a possibilidade de algo ter acontecido, buscando razões e justificativas. Já aconteceu, period! Passar mais tempo nesta fase apenas nos tira tempo de vida, nos faz perder oportunidades e retarda o nosso crescimento.
A regra vale tanto para a nossa vida pessoal quanto para a nossa vida profissional: o passado é um local de referência, um professor. Jamais será uma colônia de férias.
O que doi sobre o passado não são as situações ou lembranças, são os significados que damos a elas. Se nos conhecemos, entendemos o nosso valor e nos posicionamos como autores, ressignificamos nossos lutos e percebemos onde encaixar as peças recebidas, construindo novos degraus, preenchendo o nosso quebra-cabeça existencial.
Fase 2: Raiva – Ao perceber e aceitar a realidade, vem a raiva. Por que não percebi antes? Como fui tão burra assim? Por que bebi antes de dirigir? Por que não estudei mais? Por que eles não se cuidaram? Por que morrer assim? E podemos seguir por anos com a lista.
O fato é que aconteceu exatamente o que poderia ter acontecido dado ao acúmulo de comportamento, conhecimento e escolhas das partes envolvidas.
A raiva é fruto desta nossa “Síndrome de Deus”. Acreditamos que podemos tudo, que somos responsáveis por tudo e por todos. A nossa arrogância de acreditar que somos onipotentes, oniscientes e onipresentes. Jamais seremos, tampouco quero ser, é um peso esmagador.
A raiva só existe porque julgamos um fato passado a partir do presente, do que sabemos que poderia ter sido diferente. Esta possibilidade nunca existiu, se as lições foram pós perda, esse seu eu do presente não existiu e não poderia ter evitado o que quer que você esteja se lamentando agora.
Fase 3: Depressão | Tristeza – Perder, apesar de natural, nunca será sem dor. Pode ser sem sofrimento, mas nunca sem dor. Lembre-se desta diferença! Esta simples atitude pode te salvar de uma depressão profunda, até mesmo, irreversível.
Despedir doi, mesmo que temporariamente, quanto mais a morte. Trocar os dentes doi, construir músculos doi, ser traído doi, perder doi, nascer doi… o medo doi, o importante é não deixar que ele te paralise!
Ter clareza das etapas e de nossos porquês, nos ajuda a superar a fase de tristeza, aceitar sua dor, decidindo se afastar do sofrimento, do vitimismo, do luto eterno.
Fase 4: Barganha | Negociação – Ao sobreviver a saga dos ‘POR QUE?’, entramos na era do ‘SE’. Para mim, sempre foi uma das fases mais perigosas. Principalmente, se não vivemos as fases anteriores desenvolvendo a nossa mentalidade e propósito.
Nesta fase corremos o risco de nos entregarmos aos abusos, excessos, aumentando nossas dores, perdas, cicatrizes. Esta fase tem o poder de criar um labirinto de problemas. Consequências que nos assombrarão pela eternidade, definindo o nosso legado.
A negociação pode ser interna e positiva, um diálogo construtivo e motivador, que te levará a construir hábitos saudáveis, relacionamentos equitativos e justos. Alguns dos diálogos negativos que passaram pela minha mente:
- Se você fizer tudo o que quiserem não sofrerão mais, afinal, você está aqui para servir;
- Se você der só mais uma chance… se você considerar que eles podem estar com outros problemas e não tiveram a intenção…;
- Se você não se pronunciar, o que não ajuda não atrapalha, certo?
ERRADOOOOOOO! Jamais permita que quaisquer destas escolhas governem a sua vida.
Se doeu precisa falar, e nem precisamos machucar o outro para isso. Qualquer um que se sinta ofendido por não poder te controlar/manipular, precisa ser eliminado de sua vida.
Você pode passar a vida “carregando água no balaio” para alguém e ainda ser ignorado por esta mesma pessoa. Quem ama dialoga, relacionamentos são vias de mão dupla. Precisa de equilíbrio entre o dar e o receber.
O problema é que construimos conceitos errados de equilíbrio ao longo da vida. Equilíbrio não se traduz unicamente em 50/50. Há dias que equilibrar significa dar 30% hoje e 70% amanhã, pois assim manteremos 100% de nós mesmos em ambos os dias.
Nossos equipamentos eletrônicos fazem isso muito bem, vamos aprender? A bateria é consciente de seus limites, a função economia de bateria, destina energia para as funções essenciais até recarregarmos. Ainda assim, a retomada das atividades não é imediata.
A bateria sabe que há uma margem de segurança. Para dar 100% de sua capacidade de processamento, é preciso atingir um certo nível de energia/reserva, só assim haverá constância e qualidade na execução dos comandos.
Em nossa vida, precisamos considerar outros pesos e medidas: respeito, responsabilidade… saber o que nos drena e o que nos recarrega, ter clareza de nossos inegociáveis. E, assim, eliminaremos o vitimismo, a acusação e a barganha negativa desta etapa.
Fase 5: Aceitação – Um dos momentos mais leves e transformadores da minha vida, foi descobrir que posso aceitar que algo de ruim aconteceu sem a necessidade de apontar culpados, sem me preocupar com as causas com sofrimento.
Nos últimos três anos, perdi negócios, parceiros, projetos, família, casamento, dinheiro… nada disso foi superado, mas ressignificado, no menor espaço de tempo que consegui. É impossível negociar por longos períodos com o luto, sem dar um mergulho no mar do sofrimento. É preciso cuidado para não faltar ar no caminho de volta à superfície.
“A dor é obrigatória, o sofrimento é opcional”, umas das frases que repito em cada situação difícil que enfrento, ou que, aleatoriamente, surge em minha mente. Podemos escolher não sofrer, apesar da dor; que lindo!
Aprendi a aplicar a análise S.W.O.T. (recomendo pesquisar sobre o termo) em todas as experiências que insistem em me assombrar. Não, não muda o que se foi, transforma o que está por vir. O passado se tornou o meu maior professor e o meu melhor plano de contingência.
Fase 6: Criação – Se formos honestos e humildes o suficiente, as fases anteriores nos levarão a um estágio de completude, de paz interior, de inspiração e desejo de transbordo, de partilha e construção.
Isto não significa que todo processo de luto precisa criar a próxima oitava maravilha do mundo. Mas ele tem o poder de criar um novo você, de ampliar seus horizontes, sua percepção sobre você e sobre o mundo.
Suspeito que não pararemos de tropeçar e cair. Contudo, levantaremos cada vez mais rápido, por mais tempo e acompanhados de pessoas que agregam, alinhadas aos nossos valores. O luto faz parte da vida, sempre fará, entenda a sua função no sistema e evolua.
Conhecimento é poder, use-o com sabedoria e justiça. Use-o para matar os seus sabotadores mentais, ao invés de matar a vida ao seu redor. Que os nossos lutos sejam adubo, de modo que a nossa alma floresça cada vez mais bela, livre e sonhadora!